Movida caem 6% e Sequoia sobe 107% após adquirir Move3
O ano já começou bastante agitado no mundo corporativo e no primeiro pregão a Sequoia Logística (SEQL3) anuncia aquisição da Move3, o que muitos analistas acreditam que será a maior empresa privada de logística do Brasil. O faturamento combinado entre as duas empresas será próximo de R$ 2,4 bilhões e só ficam atrás dos Correios.
Nessa incorporação, a Sequoia terá 60% da nova companhia e a Move3 o restante dos 40%. Importante lembrarmos que a Sequoia é uma empresa listada na bolsa de valores (B3) e está no segmento “novo mercado”, tendo a obrigatoriedade de seguir algumas regras de governança corporativa, como o tag along e ações ordinárias, mínimo de 3 membros no Conselho de Administração e ao menos 2 devem ser independentes, assim como estabelecer o Comitê de Auditoria e Compliance.
Neste primeiro pregão do ano, as ações da empresa subiram mais de 100% e surpreenderam muitos investidores. Mas nem tudo são flores, já que a empresa está passando por um processo de reestruturação e seus papéis chegaram a desvalorizar 97% deste o IPO em 2020. E se você é bom em matemática, já deve ter percebido que a subida nos preços de ontem estão longe de atingir o equilíbrio econômico dos investidores que acreditaram no potencial da empresa em sua abertura de capital, afinal, ainda é necessário subir quase 1.000% até “recuperar o prejuízo”.
O grande ponto é que isso gerou um grande stress entre investidores ontem, muitos acreditaram que a Sequoia estava incorporando a Movidas, que também é listada na bolsa de valores, sob o ticker MOVI3 e as suas ações caíram mais de 6% no pregão.
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MAS QUAL O PROBLEMA NESTA CONFUSÃO E AS RAZÕES DESTA DIFERENÇA DE VARIAÇÃO ENTRE AS DUAS EMPRESAS?
Se somar o valor de todas as ações da Sequoia, elas estavam cotadas ao valor de mercado de aproximadamente R$ 130 milhões e seu último balanço contábil apontava cerca de R$ 11 milhões em disponibilidade financeira (caixa), cerca de R$ 127 milhões registrado no Patrimônio Líquido, enquanto a Dívida Bruta era de R$ 985 milhões e alguns indicadores negativos, como Margem EBITDA de -13,84% ou P/L de -0,57 e P/VP de 2,19. Ou seja, as coisas não estão bem para a empresa e esse volume de dívidas, que tecnicamente é pequeno quando comparada com outras empresas listadas, mas que causou um estrago no caixa da empresa nos últimos anos.
Enquanto isso, a Movidas (MOVI3) estava com valor de mercado de R$ 4 bilhões, cerca de R$ 2 bilhões de disponibilidade (caixa), cerca de R$ 3 bilhões registrado no Patrimônio Líquido, enquanto a Dívida Bruta de é surpreendentes de R$ 13 bilhões e alguns indicadores como Margem EBITDA de 33,07%, P/L -89,95 e P/VP 1,33. Aqui o mundo também não é perfeito, mas a empresa encontra-se num momento financeiro melhor que a Sequoia.
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FARIA SENTIDO UMA AQUISIÇÃO DESTA NATUREZA?
Apesar de uma aquisição desta natureza fazer sentido, era pouco provável com essa discrepância entre os indicadores das duas empresas, sem contar que seria uma guinada no perfil de negócios. Seria necessário um aporte muito grande de alguns fundos que são cotistas da empresa, além de um financiamento robusto dos bancos ou mesmo que eles aceitassem repactuar parte significativa dos passivos, isso seria uma situação bem complexa, ainda mais com essa deterioração de caixa na Sequoia e como a gestão tem enfrentado esse problema.
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MAS E A TAL FUSÃO COM A MOVE3? JIVE e NEWFOUNDLAND
Tudo isso é fruto de uma articulação entre os fundos que são sócios do negócio: Jive e Newfoundland Capital. A Move3, que possui cerca de 30 anos, atua na área de logística bancária e estava preparando-se para fazer um IPO e apesar de não ter endividamento bancário, a pandemia pode ter impactado de maneira significativa seus negócios, o que provavelmente instigou a busca por um capital “barato” na abertura de capital. No meio disso tudo, os fundos de investimentos aportaram novos recursos, cerca de R$ 100 milhões, articularam a substituição por debentures mais longas com os credores na Sequoia e incentivaram a concretização do negócio.
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A PERGUNTA DO BILHÃO: E OS ACIONISTAS MINORITÁRIOS?
Bem meus amigos, se você é investidor da empresa deste o IPO, desculpe-me, mas a sua situação está longe de ser resolvida.
O setor de logística tem enfrentado sérios problemas devido a inflação, que impacta toda a cadeia de suprimentos e reduz de maneira significativa as margens das empresas. Nem mesmo os cortes de impostos nos combustíveis foram medidas suficientes para aliviar o problema que muitas delas estavam enfrentando. É natural que esse movimento de concentração aconteça ao longo do tempo, criando gigantes nos segmentos e atraindo capital dos bancos devido a melhor bancabilidade.
Mas até quando a empresa consegue suportar esse movimento baixista nos negócios? O Brasil é um país continental e sempre precisará de logística para transportar diferentes produtos entre seus extremos territoriais, onde estão parte significativa de seus polos industriais, como Manaus (Norte), Santa Catarina (Sul), São Paulo (Sudeste) e Recife (Nordeste).
Aos acionista minoritário, restam 3 importantes decisões neste momento: manter posição atual, aumentar os aportes ou abandonar o barco.
Eu particularmente não teria entrado no IPO, prefiro ter ativos com algum histórico mínimo de 5 anos após abertura de capital na bolsa para avaliar o time de gestão, as decisões que foram tomadas neste período, as dificuldades enfrentadas e como são as perspectivas econômicas do país. Prefiro abrir mão de um potencial acerto excepcional já na largada do IPO, por uma certa previsibilidade ao longo do tempo, ainda que isso também seja quase impossível no mercado de ações.
Mas como alguns investidores seguem determinada filosofia, a exemplo de Rothschild: “Comprar ao som de canhões e vender ao som dos violinos”.
Se levar em consideração que o jóquei e o cavalo do momento passa a ser a companhia resultante desta fusão entre Sequoia e Move3, ela passa a ser uma das líderes do segmento no país e de forma geral, como afirma Michael Porter “As líderes tendem a ter vantagens competitivas”, então seria esse o ponto de virada na empresa? Talvez na parte de pimentinhas da carteira pode fazer algum sentido para certos investidores!
E se você for tão otimista quanto o Peter Lynch, quem sabe esta é a chance de uma “one hundred” ou a oportunidade de multiplicar por 100x o valor investido. Quem sabe? Só o tempo dirá! E talvez venha algum agrupamento de ações, já que elas estão cotadas abaixo de R$ 1,00 e as regras da B3 exigem este movimento caso isso permaneça por mais de seis meses consecutivos.
Disclaimer.: esta não é uma recomendação para negociação dos ativos, apenas trás reflexões aos investidores. Portanto, trata-se apenas de conteúdo educacional e busca instigar a busca por mais conhecimento no mercado financeiro. Faça as suas avaliações e tome as próprias decisões em sua carteira de investimentos!
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Glossário:
P/L = Preço / Lucro
P/VP = Preço / Valor Patrimonial
EBITDA = Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização
SEQL3 = Ticker da Sequoia Logística na bolsa
MOVI3 = Ticker da Movidas na bolsa
Ticker = código de negociação das empresas no home broker
Disclaimer = Alerta